Negacionismo científico na pandemia
- levi cezar
- 5 de jun. de 2020
- 4 min de leitura
Definitivamente, um dos maiores problemas que enfrentamos hoje na sociedade é o negacionismo científico, independentemente da área. O negacionismo pode ser patético, como o terraplanismo, ou mais perigoso, como o movimento antivacina. E não poderíamos esperar diferente durante a pandemia. O negacionismo neste contexto existe e é enorme.
O que uma sociedade menos precisa em um momento de pandemia, como o que vivemos, é de um líder político que negue os fatos. Políticas públicas e medidas emergenciais são tomadas após o dimensionamento do problema em questão; quanto mais tempo um governo nega a existência desse problema, mais demorada será a implementação e criação dessas políticas públicas e medidas emergenciais. Pior do que negar fatos científicos é ir na contramão das evidências. Diversos líderes foram completamente contrários a organizações — como a OMS — e consensos científicos durante a pandemia, incluindo os presidentes Jair Messias Bolsonaro e Donald Trump, além do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson.
O premiê inglês, conhecido por ser um conservador polêmico, foi um dos líderes mundiais que minimizou a gravidade da COVID-19. Boris foi lento em relação à adoção de uma quarentena e, em um pronunciamento, disse:
“Eu tenho apertado mãos continuamente. Eu estive no hospital outra noite e acho que tinha alguns pacientes com corona vírus e eu apertei as mãos de todos. Vocês terão satisfação em saber: eu continuo a apertar as mãos”
Apenas 24 dias após esse pronunciamento, Boris foi diagnosticado com corona vírus, e após dez dias foi internado na U.T.I com grandes complicações respiratórias. Nesse período o sistema de saúde do reino unido já estava em estado de colapso, com um grande aumento no número de casos e mortes.
Donald Trump, além de minimizar a COVID-19, também demorou a adotar medidas mais rígidas de isolamento. Quando os primeiros casos de coronavírus foram reportados nos EUA, Trump, em uma coletiva, disse que seriam apenas alguns casos e que a tendência era que eles diminuíssem gradativamente em poucos dias. Mas isso não aconteceu. Os EUA se tornaram rapidamente o epicentro da doença, colapsando o sistema de saúde em diversos estados, como o da maior cidade do país, Nova York. Apesar do agravamento da situação, com o aumento do número de casos e mortes, Trump continuou minimizando a gravidade do problema. Além disso, ele popularizou uma medicação, alegando que era benéfica no tratamento da COVID-19: a cloroquina, que ganhou destaque no mundo inteiro.
Até o momento, não existe nenhuma vacina contra a COVID-19 ou qualquer tipo de medicação que tenha efeito positivo. Apesar de Trump não ter formação em medicina ou qualquer outra especialidade na área de saúde, ele defendeu fortemente o uso de cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com COVID-19. A cloroquina é, de fato, uma medicação útil, mas apenas no tratamento de doenças como a malária. Além de recomendar publicamente o uso da cloroquina e hidroxicloroquina para COVID-19, ele alega tomar de maneira preventiva esta medicação contra a corona vírus. Você pode se perguntar: por que não podemos usar essas medicações? Já que não temos nenhum medicamento eficaz, não custa tentar. Mas as coisas na vida real não são assim, principalmente na medicina. Eu definitivamente não sou médico, muito menos da área da saúde, mas entendo bem de ciência — meu bacharelado é em ciências econômicas. Existe um grande problema em transformar a medicina em um espetáculo, pois o uso indevido de medicações pode agravar o problema ou até mesmo criar um novo.
A cloroquina pode causar arritmia nos pacientes. Até poucos dias atrás, não existia um estudo decente, bem pesquisado e que tivesse passado por todos os devidos processos, mas recentemente foi publicado um artigo cientifico — muito bem elaborado — que mostra a eficácia da cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com COVID-19. De maneira sucinta, o estudo conclui que, entre os pacientes tratados, 18% dos que receberam cloroquina ou hidroxicloroquina morreram. No grupo que recebeu a combinação de cloroquina ou hidroxicloroquina e antibióticos, a taxa de mortalidade foi de 23,8%. No grupo de controle, que não recebeu nenhuma medicação, 11% dos pacientes morreram. Ou seja, a cloroquina e a hidroxicloroquina não ajudam, mas sim podem ser perigosas. E quem realmente necessita da medicação para tratamento de doenças específicas, está sem ela ou com muita dificuldade de encontrar.
Jair Messias Bolsonaro nunca foi conhecido por sua inteligência e também foi um dos líderes que popularizou o uso da cloroquina. Desde o início da pandemia, o presidente minimizou a doença e, em certa ocasião, disse que não passava de uma "gripezinha". Para Bolsonaro, a cloroquina é a melhor medicação contra a COVID-19, mesmo sem formação em medicina. Além de tratar a medicina como um espetáculo, Bolsonaro defende um tipo de isolamento social alternativo, conhecido como vertical. Para ele, os comércios deveriam abrir normalmente, inclusive lotéricas, já que o vidro do caixa é blindado e o vírus não atravessa — Sim, nosso presidente da república disse isso.
A Nova Zelândia é definitivamente o melhor exemplo de compromisso e liderança. O país é liderado por uma mulher, Jacinda Ardern, que é a primeira-ministra e uma das mais jovens do mundo, com apenas 39 anos. Jacinda, em momento algum, minimizou a pandemia e adotou medidas emergenciais e políticas públicas de maneira rápida e eficaz. Ela deu mais do que uma aula de humanidade e política; foi um verdadeiro tapa na cara do mundo. O número de mortos pela COVID-19 no país é extremamente baixo: 22 mortos e 1.154 casos! — Definitivamente o mundo precisa de mais líderes como Jacinda Ardern.
Outras menções honrosas de líderes mundiais que se destacaram no combate à pandemia são Angela Merkel, da Alemanha; Erna Solberg, da Noruega; Sanna Marin, da Finlândia; Katrín Jakobsdóttir, da Islândia; e Tsai Ing-wen, de Taiwan. Todas essas líderes são mulheres que demonstraram compromisso e competência ao enfrentar a crise, implementando estratégias eficazes e garantindo a saúde e a segurança de suas populações.
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